Itens compartilhados de Juliano

segunda-feira, 31 de março de 2008

De gadgetibus electronicis ;)

Gente, eu me lembro mais ou menos de quando cheguei por aqui e me deixava levar pela quantidade de novidades eletrônicas que via pelas ruas. E também pela naturalidade com que os coreanos lidavam com isso... São celulares dmb (que recebem transmissões de tv), laptops (de todas as cores, tamanho, formatos e sabores...), mp3 players (que agora estão meio demodés), pmp's (sucessores dos mp3; sigla de "portable media players"). Agora estão chegando os mini laptops de baixo custo tipo o Eee da Asus, por preço de banana split (um pouco mais caro que banana)... São milhares de coisinhas que podem ser compradas por quem quiser. Essa é a maior diferença, creio eu. Maior até do que a tecnologia em si. Como bom brasileiro (não tão bom assim, já que não me interesso por futebol e nem sem dançar, mas vá lá...), isso chega a ser obsceno! A liberdade de consumo é um ponto que chega a chocar. Não posso dizer que chegue ao ponto do Japão (meu Japão é o de mais de 7 anos atrás, não posso dizer como anda agora, mas suponho que não tenha mudado tanto), onde os eletrônicos chegam a ser um pouco mais baratos, mas mesmo assim, não é uma diferença tão brutal como a com o Brasil. Tudo bem que agora, com o dólar baixo, a tendência dos eletrônicos é baratear um pouco, mas mesmo assim, os preços continuam meio abusivos no Brasil pelas informações que tive.
A grande diferença daqui com o Japão, é mesmo no preço dos telefones celulares. No Japão, eles ainda continuam distribuindo celulares de graça. Aqui na Coréia não. Você tem que pagar a máquina, mesmo que de vez em quando, haja algum tipo de promoção dando celulares por aí. Mas pelo que fiquei sabendo aqui, o governo meio que proibiu a venda de aparelhos por 0 (zero) won, por causa da população que tinha a tendência de trocar de aparelho de 3 em 3 meses, mais ou menos. Isso criava uma geração de lixo tecnológico muito grande e o governo não gostou. Então, se quiser um aparelho, tem que pagar por ele pra ficar com dó de se desfazer do mesmo com muita facilidade. No entanto, eu acabei trocando meu aparelho esses dias, tem menos de um mês, por um aparelho da LG da linha CYON. Fiquei feliz com a troca, principalmente pelo design do aparelho que é fininho (o meu anterior era quase um tijolo) e pelo tamanho da tela que é relativamente grande. Celular 3G, com internet (meio cara, dependendo do plano), MP3 player, memória interna de 64 MB e chip de memória externa de 2 GB, câmera (foto/vídeo) e vídeo-fone. Este não pega TV, mas pra mim tudo bem. Estou destelevisificado ultimamente. Preço? Cerca de 30 dólares, porque já é um modelo antiquado (menos de um ano). Acho que isso ainda não tem no nosso Brasil varonil, tem? Eu lembro que quando eu tava saindo daí, tinha umas promoções da Claro de cel por 1 real, mas que eu me lembre o aparelho era bem meia-boca. Como andam as coisas agora por aí?
A Eun Bee aproveitou e comprou um pra ela também. Ela quis avacalhar e comprar um modelo novo. O principal é que não tem teclado é tudo na base de toque na tela (ou tatiscrim pros metidos), além de uma câmera com flash de uns 5 megapíxels (ou píxeis?). Na verdade, ela queria um iPhone, mas não temos previsão de chegada do bichinho por aqui. Então ele contentou mesmo com o "Veauty", também da linha CYON da LG. O preço aí já foi mais salgadinho por se tratar de um modelo novo, quentinho, acabado de sair do forno. Uns quatrocentos dólares. Mesmo assim, não é tanto dinheiro por aqui. Quem quer comprar, compra. Não tem esse negócio de ficar fazendo carnê pra pagar em 48 vezes (me lembrei do Caco Antibes: "Eu tenho horror a pobre!" Lembram-se?). Quem quer compra; quem não quer, não. No máximo, eles dividem em duas vezes no cartão. E aí? Quando é que vamos chegar a esse ponto? Já que vivemos numa sociedade capitalista, já que a mídia nos bombardeia com as mensagens liminares e subliminares do "Compre! Compre! E seja feliz!", deveríamos pelos menos poder realizar nossos desejos. Isso pelo menos seria mais justo. Ou então façam o que fez o Kim Il Sung e fechem as fronteiras e se ensimesmem e creiam que só o que há no Brasil é o melhor e que nós nos bastamos a nós mesmos, e que não há problemas, e que não há tristezas... Qual seria melhor? Voltar no tempo ou caminhar adiante? Só tem um problema: sem igualdade de oportunidades, não há "adiante". O dia que tivermos isso pelo menos, já teremos conseguido um enorme avanço. Não é necessário que haja distribuição forçada de renda ou de outra coisa que seja, basta ter igualdade de oportunidade e educação para que a pessoa possa escolher o que quer fazer de sua vida e arcar com as conseqüências dessa escolha feita com base no conhecimento. Acho o brasileiro um povo muito estagnado, muito passivo, que aceita muita coisa sem se mexer. Precisamos de educação de qualidade e não da educação "estatística" que foi instituída "recentemente".
Não digo aqui que somos os únicos com problemas, há gente bem pior que a gente por aí; mas também há gente em bem melhor situação. Também não digo que todos os problemas serão solucionados caso consigamos desenvolver esses pequenos pontos. Todos têm problemas, mas os problemas serão menores e de menor gravidade do que os que temos hoje em dia.
Ao invés de se acomodar, e esperar o que os outros podem fazer, poderíamos pensar em fazer algo nós mesmos, não? É interessante sairmos do país e ver outras realidades e aprender a ver coisas que parecem óbvias, mas que podem ser observadas de outro ponto de vista... e talvez até solucionada. Mas essa "cegueira social" é muito difícil de ser curada, a não ser por meio de educação e trabalho árduo. Não creio que vejamos os resultados com nossos olhos, mas poderíamos pelo menos deixar o lugar mais arrumadinho pros nossos descentes. A Coréia teve um século XX terrível, saída de milênios de feudalismo; foi invadida pelos japoneses, guerreou entre seu próprio povo por questões ideológicas, saiu da guerra na miséria, teve problemas de pobreza extrema e de fome até há poucos anos (20 a 30 anos atrás), mas hoje em dia com educação e com o trabalho em conjunto da sociedade, eles se desenvolveram de uma forma impressionante. Não dá pra imaginar o que era isso aqui e o que virou. Por essas e outras é que eu fico meio triste com nossa terra adorada, idolatrada, salve, salve. Mas ainda não perdi as esperanças. Quem sabe um dia o povo acorda, né? Quem sabe o "gigante eternamente adormecido em berço esplêndido" não acorde e dê uma saidinha pra ver o que que há além do berço. Afinal, a esperança é a última que morre.

PS: Desculpem o desabafo, mas a postagem criou vida e tomou uma direção que não consegui segurar... afinal é uma coisa que sempre está passando por minha cabeça no dia-a-dia aqui na península.

Um abraço.

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