Itens compartilhados de Juliano

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Trauma pós-parto

Estou passando por uma fase de trauma pós-parto.

É. Minha tese nasceu. Faltando um dedo em cada mão e cada pé... mas nasceu. E pra quem diz que todo genitor (não posso dizer mãe, né?) é coruja, eu não o sou. Não estou nem um pingo orgulhoso -talvez por ainda a ficha não ter caído- do que escrevi. Acho que dava pra ser melhor, mais bem trabalhada, ou seja, uma tese de verdade. A meu ver, isto ainda não é uma dissertação de mestrado. Talvez eu esteja sendo muito exigente comigo mesmo, no entanto, ainda acho que poderia ter escrito coisa bem melhor.

Quem acompanha este blogue deve já ter notado que do ano passado pra cá, talvez até um pouco mais que isso, não há praticamente outro assunto que não seja tese, programa, não funciona, deu certo etc. São poucos os posts que não se embrenham por este assunto, e os poucos que há não chegam a ser um post que mereça grande consideração dado o fato que minha cabeça nunca saiu do "raio" da tese.

A gestação foi problemática, com várias ameaças de aborto e de má-formação congênita da tese-feto. O embrião demorou para se desenvolver, demorou e bastante pra descobrir um negócio chamado mitose (ou seria meiose? já faz tanto tempo que passei pelas carteiras duras de madeira do Objetivo...) e começar a crescer, mesmo que devagar. Foram meses e meses com aquele feto no meu útero-cérebro se remexendo, ensaiando chutinhos que quase não me faziam lembrar que aquele embrião estava por lá, desenvolvendo-se.

O ventre-papel (de forma eletrônica) começou a crescer, mesmo que timidamente, há apenas pouco mais de dois meses, quando os primeiros bytes foram postos de maneira semi-coesa em forma de um esqueleto de títulos e sub-títulos. (O hífen tá certo? É a pior mexida do acordo ortográfico...) Aos poucos, um pouco de carne-texto foi revestindo esse esqueleto, algumas figuras e tabelas o foram enfeitando e só. O período de crescimento parou, estancou-se e nada mais acontecia. Passam-se os dias, passam-se as semanas, passa enfim o tempo e uma dor incontrolável me avisava que o aborto era iminente. Cheguei a visitar o doutor, o professor doutor orientador, que orientou minha dor de forma bem coreana: disse a mim pra parar de frescura, parar de pensar e para me pôr a trabalhar de forma que o nascimento se desse no dia 27 de junho, três dias atrás. E para me fazer entender que o negócio era pra valer, duas semanas antes do dia fatídico, forçou-me a tricotar um casaquinho-artigo para uma conferência internacional a respeito de minha tese. Isso realmente foi o que me acordou e o que me forçou a começar a escrever. Antes, só pensava em como seria possível escrever alguma coisa, planejava, desplanejava, escrevia, apagava, tricotava a roupinha do recém-nascido e me tocava que seria um natimorto e puxava o fio do tricô desfiando o casaquinho que estava já quase pronto. O artigo foi o que salvou a gestação. A partir do momento que vi aquele casaquinho estendido nas linhas do meu texto, vi que o negócio era pra valer, e que o trabalho de parto estava realmente começando, um caminho sem volta... A dilatação do cérebro já estava em 10 páginas que convertidas no formato da tese já chegava a quase 30!

Depois de várias noites sem dormir, e sentindo aquele bixo crescer na minha cabeça, percebi estar na reta final e passei o fim-de-semana todo em trabalho de parto ininterrupto (a não ser por alguns cochilos aqui e ali) até que na segunda-feira, dia 27, chamei o obstetra e mostrei o rascunho. Recebi o imprimatur e fui pro xerox da faculdade imprimir 4 cópias do trabalho que deu tanto trabalho em seu longo trabalho de parto: uma cópia para cada professor participante de minha banca e uma para mim, para lembrar do sufoco pelo qual passei e achava que não ia sair vivo. Quando peguei aqueles bixinhos na minha mão, foi como se o mundo parasse e como cada instante durasse uma eternidade, tudo em câmara lenta e sem um peso absurdo sobre meus ombros. Êxtase e alívio. O último passo era deixar cada cópia no berçário-sala de cada professor que iria tratar de examinar cada milímetro tim-tim por tim-tim e dar o veredito final agora na sexta: minha filha-tese receberá alta? Ou vai ter que ficar mais um tempo no hospital pra ver se dá pra implantar os dedos que faltam em cada membro?

Próximo capítulo da novela só depois de amanhã.

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