N'este post contar-lhes-ei um pouco acerca do transito urbano da capital coreana, Seul. (E como estava há pouco a desfructar de peças literarias do inicio do século passado, péço desculpas aos desavisados que, quiçás, pensem que eu esteja passando por um surto de grippe aviária.)
Vivo n'uma moradia estudantil, situada a uma avenida central que possue duas vias com quatro pistas, chamada de “Rua da Universidade”, n'a língua coreana, Daehangno (대학로 大學路). Dicta via é adornada, em ambos os lados, por obras de arte moderna; algumas são interessantes, outras já pedem um pouco mais de philosophia e meditação aos transeuntes para que sejam, em parte, deciphradas. É-me deveras agradável viver por aqui. Há universidades e, conseqüentemente, jovens; muitos d'os quaes, enamorados, caminham alegremente lado a lado a suas companhias, servindo-se d'os muitos restaurantes, casas de espectaculos e estabelecimentos commerciaes variados que ladeiam e se espalham pelas ruas adjacentes. É um esplendor d'o capitalismo oriental. Além d'o commércio devidamente instalado em immóveis, há também um vívido commércio informal que invade o espaço destinado aos pedestres. Há um nummero inimaginável de kiosks que vendem de um tudo: de cigarros a refeições, alguns d'os quaes lançando mão de animaes vivos para o preparo do exótico prato.
Aos finaes-de-semana, o tráffico de pedestres chega a assustar o mortal mais accostumado á metrópolis paulistana. Chega quási a ser comparável a uma “25 de Março”. Caminhar pela calçada n'um sábbado á noite, então, torna-se uma tarefa hercúlea para o mais paciente de todos os orientaes.
Isso seria até mesmo admissível, não fôra o facto de que, n'este país, os vehículos com menos de quatro rodas sejam considerados “pedestres”. É exactamente o que se passa por aquí. Não bastasse o batalhão de seres caminhando pelas calçadas não tão amplas, o que difficulta o percurso, deve-se ter uma attenção dobrada e redobrada para não ser atropellado pelas motocycletas.
As motocycletas são donnas de todos os territórios. Freqüentam as ruas e as calçadas, tomam elevadores, efectuam as entregas de todo typo de encomendas; em summa, estão presentes em prácticamente todos os momentos d'a vida quotidiana. É, devéras, um modo práctico de locommover-se, entanto, o perigo sempre ronda os desavisados. Ás portas dos omnibus, podem-se ver avisos pedindo attenção n'o embarque e n'o desembarque para que o passageiro não seja abalroado por uma d'essas machinas. Há também comentários de pessoas dizendo ter visto accidentes, com ou sem víctimas. Eu mesmo, há poucos dias, presenciei um quasi-accidente envolvendo o motocyclista e a corrente que faz as vezes do portão d'o estacionamento de nosso edifício. O senhor que guiava a motocycleta quasi estatelou-se no chão após o choque com a dicta corrente. Caso houvesse pedestres passando por allí n'aquele momento, esse incidente poderia ter-se transformado em um accidente.
Falando a repeito de transito, é também uma figura muito comum nas ruas coreanas o “carroceiro”. O carroceiro é normalmente um senhor de mais edade que já não tem mais um emprego formal, mas que sente a necessidade de completar o orçamento familiar. Como já não póde mais encontrar um emprego, pois já está fóra d'o limite etário que dão as empresas, resolve sair pelas ruas recolhendo entulhos e trastes que as pessoas já não querem mais em suas casas. É muito comum ver senhores apparentando cerca de oitenta anos puxando suas carrocinhas carregadas de papéis ou monitores de computadores.
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