Itens compartilhados de Juliano

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Kimchi com Café em Boletim Extraordinário

Venho por meio desta participar a todos os que acompanharam a minha ladainha quanto ao meu exame de qualificação de mestrado (acabei de descobrir o nome disso agora... de tanto falar 논자시 [nonjashi] acabei esquecendo como falava isso em português) que hoje saiu o resultado do famigerado exame.

Mas, antes disso, devo dizer que estou meio sonolento pelo fato de que ontem não pude pregar meus olhos face às dificuldades de uma apresentação que tinha que fazer para a aula de Línguas Altaicas, a qual me tomou todo a noite passada. Tudo bem que até tive um certo tempinho pra poder cumpri com minhas obrigações discentes antes da reta final, mas não me sentia nem um pouco bem psicologica ou emocionalmente devido às agruras do estresse passado pelos estudos para dito exame de qualificação. Deixei, pois, para a última hora como é de meu feitio, e também de 80% dos brasileiros e coreanos que eu conheço.

Pois bem, hoje, fiz a apresentação sobre a Harmonia Vocálica no Coreano do século XV e das línguas Tungúsicas. Foram quatorze páginas de cocô, na falta de vocábulo mais formoso. No entanto, foi o que deu pra fazer em uma noite. O professor não reclamou muito (bom sinal) e saí feliz com o resultado inesperado. Logo depois da aula e do almoço, tentei em vão marcar minha presença no meu amado Laborátorio de Lingüística Computacional, mas estava pescando mais que não sei o quê. Resolvi, pois, voltar pra casa e, chegando, despenquei com tudo na minha amada caminha que me recebeu de braços abertor e sorriso no rosto e que me acolheu por duas satisfatórias horas. Agora, já desperto, resolvi dar uma olhada no meu celular, onde não mais que de repente havia uma singela mensagem de duas linhas enviada por meu colega de laboratório que dizia: "논자시 합격을 축하해", ou, "parabéns pelo exame de qualificação!". Isso significa só uma coisa:

PASSEI!!! PASSEI!!! PASSEI!!! =)

Agora "só" tenho que escrever minha tese de mestrado... nada mais...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ai, ai, Brasil, Brasil...

15/09/2008 - 10h50

Banda larga no Brasil é uma das piores do mundo

da Folha de S.Paulo

A qualidade da internet banda larga (rápida) no Brasil está entre as piores no mundo e é insuficiente para atender as necessidades dos usuários que usam hoje os aplicativos da web. Segundo estudo com 42 países, a internet brasileira só é melhor que o serviço de quatro nações. Somente Chipre, México, Índia e China oferecem um serviço inferior ao brasileiro.

A internet rápida no Brasil não é considerada adequada hoje para ver vídeos em sites como YouTube, baixar pequenos arquivos e navegar pela rede, mostra a pesquisa feita para a Cisco pelas universidades de Oxford (Reino Unido) e Oviedo (Espanha). O estudo, publicado ontem no exterior, deve ser divulgado com mais detalhes sobre o Brasil na segunda-feira.

A pesquisa leva em conta a velocidade do acesso, os atrasos na rede e a perda de dados e, a partir desses dados, dá uma nota para o serviço de banda larga de cada país. "Nós estamos olhando para a qualidade, não para a penetração", afirmou, em nota, Fernando Gil de Bernabé, diretor da Cisco.

O estudo afirma, por exemplo, que a velocidade mínima adequada para baixar arquivos na internet é de 3,75 Mbps (megabits por segundo). No Brasil, pesquisa da própria Cisco, considera banda larga a internet com velocidade de 128 kbps (muito inferior ao desejado). O levantamento mais recente da empresa diz que existiam 10 milhões de conexões de alta velocidade no Brasil no final de junho, 48,3% mais que no mesmo período do ano passado.

De acordo com os pesquisadores, a internet em um período de três a cinco anos exigirá uma velocidade de download ainda maior, de pelo menos 11,25 Mbps, para que o usuário consiga ter boa qualidade ao assistir a vídeos de alta definição, por exemplo.

"As velocidades médias de download são adequadas [em 23 países] para navegar pela rede, trocar e-mails e para baixar e fazer "streaming" [transmissão direta pela internet] de vídeos básicos, mas estamos vendo cada vez mais aplicativos interativos, mais conteúdo gerado pelos usuários sendo colocado na rede e compartilhado, e uma quantidade crescente de serviços de vídeos de alta qualidade tornada disponível", afirmou Alastair Nicholson, pesquisador de Oxford.

Pela pesquisa, somente o Japão --que tem o melhor serviço no momento-- já tem uma internet com qualidade suficiente para atender as necessidades dos usuários daqui a cinco anos. Depois da internet japonesa, os melhores serviços são oferecidos por Suécia, Holanda e Estônia. Outro país báltico, a Lituânia, aparece na sétima colocação no levantamento.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Viagem - Mais uma parte

Como tudo foi muito corrido, não escrevi mais durante a viagem. Só fui tomando notas esparsas as quais vou continuar postando por aqui.

16 de agosto

Ao instalarmo-nos confortavelmente no quarto do hotel, saímos à rua à procura de aventuras na recém-chegada China.

Descemos os 12 andares de elevador, saímos do saguão do hotel, e vimo-nos em uma cidade desconhecida por volta das 8 da noite. Que fazer? Sair para fazer reconhecimento de área.

Logo à frente do hotel havia uma grande avenida, que na verdade é um tipo de rodovia que corta a cidade de norte a sul e de leste a oeste, um tipo de Avenida do Contorno (pra quem conhece BH) ou Anel Viário pra quem conhece SP (daqui a alguns anos, porém). Nas cidades chinesas isso parece ser muito comum. Tianjin, que é menor, tem só dois anéis, o número 1 (exterior) e o número 2 (interior). Beijing, por sua vez, tem 7, mas o anel número 1 não conta porque é a avenida que rodeia a Cidade Proibida e a Praça da Paz Celestial (o centro da capital). Mesmo assim, 6 anéis viários dentro da cidade ajudam bastante no desafogo do tráfego. Um caminho que demoraria uma hora, é feito em 30 minutos, mais ou menos. Parece pouca diferença, mas ajuda bastante.

Bem, voltando a Tianjin, logo ao sair do hotel, já nos vimos de frente à primeira aventura da viagem: atravessar a rua. Chegamos ao cruzamento desse anel viário com mais uma meia-dúzia de ruas (um pouco de exagero, mas era a impressão que dava): carros de todos os lados, bicicletas e motos, além de pedestres por todos os lados, num balé orquestrado por um diretor invisível, tudo harmonizado pela sinfonia de buzinas aqui e acolá. Examinamos o processo durante uns minutos e a primeira conclusão a que chegamos era de que o semáforo era quase um enfeite no meio daquela loucura toda. Ninguém se preocupava muito com ele. O semáforo funcionava mais como um tipo de sugestão: "tudo o que se movimenta deste lado deveria passar agora enquanto o que se movimenta do outro lado dá preferência". Não sei se deu pra entender, mas era mais ou menos assim. Além do mais, não havia faixa de pedestres, pelo menos onde estávamos. Então resolvemos escolher o modo mais lógico. Acompanhar os nativos de perto e pisar em suas pegadas (de preferência deixando o nativo para o lado em que o trânsito vinha, mais ou menos como um escudo). E não é que funciona? Passamos por entre os carros, motos, bicicletas e pedestres com certa facilidade, apesar do medinho que tentava se aflorar. Depois de um relativamente longo tempo, conseguimos atravessar todo o cruzamento, parando nas ilhas onde não havia trânsito no meio da rua, e chegamos a uma grande construção que tinha a maior pinta de supermercado. Com meu conhecimento de Ideogramas, só deu pra decifrar que o que eu via escrito na fachada do prédio era só o nome do estabelecimento, o que não esclarecia se era um supermercado ou uma loja de materiais de construção... No entanto, ao chegarmos à porta, vimos que realmente se tratava de um hipermercado com um tiozinho na porta falando um monte de coisa pra gente. Só consegui entender "9 horas! 9 horas!", informando-nos que o mercado fecharia a tal hora. Mas depois continuou falando mais e mais coisas... Depois entendi que era sobre a mochila... Acho que não podia entrar com mochila ou que tinha que deixar a mochila em algum lugar. Mas, olhando nossa cara de dãããã, fez um "tsc-tsc", tipo "ai, esses estrangeiros bobos que não sabem falar nada..." e fez um gesto para que entrássemos.

Supermercado no exterior é uma experiência única. Ainda mais em um lugar como a China onde nos sentimos analfabetos. (Mesmo assim, ainda consigo entender o básico e não tenho tanto problema... O problema foi na Tailândia onde queria comprar um chocolate, não achei, e saí com um iogurte... lá o negócio é trash.)

Acabei saindo do supermercado com uma garrafinha de suco de uvas verdes, um pacote de bolacha e um vidrinho de Nescafé (Nescafé mesmo, que nem esse que tem aí no Brasil, só que escrito em chinês de um lado e em inglês do outro.) Comprei café por ser um item de sobrevivência, já que na China café é quase inexistente, e quando existe, é relativamente caro.

Mas estávamos com fome. E o que comer?

Preferimos ser práticos. Ao invés de entrar em um restaurante chinês e ficar se matando para descobrir o que é cada prato (com nomes tipo "Dragão Dourado que Sobrevoa as Montanhas de Shenzheng com molho de Tesouros Marinhos"... e quando chega é batata doce empanada com camarão... tipo essas coisas...), preferimos ser pragmáticos e saciar a fome de um modo fácil e eficiente: KFC. O Kentucky Fried Chicken, juntamente com o McDonald's abunda em território chinês. E onde tem um, não passam 100 metros sem que esteja o outro. Parece até que combinam de montar as lojas nos mesmos lugares.

Pedimos nossos lanches e no suco, pedimos o especial que eles tinham para o verão. Qual não foi minha surpresa quando tomei o suco e percebi que era: maracujá! Tudo bem, maracujá misturado com outras frutas, mas tinha maracujá lá dentro! Ai, que "diliça"... Depois de dois anos sem saber o que é maracujá por aqui, minhas papilas gustativas se sentiram realizadas pelo prazer que o suco lhes deu. Ótimo! =)

Andamos um pouco mais, descobrimos uma estação de metrô do lado do hotel, vimos nosso primeiro McDonald's (perto do KFC), o qual tinha um mendigo sentado à porta pedindo dinheiro aos riquinhos que tinham dinheiro pra comer lá (o preço em relação ao custo de vida faz esse tipo de comida (McDonald's, KFC, Pizza Hut) ser relativamente bem mais caro do que no Brasil. Mesmo assim, sempre tinha muuuita gente).

Após esse percurso, estávamos cansados e resolvemos então enfrentar a aventura de atravessar as ruas de volta para o hotel. Dessa vez foi mais rápido, só foi difícil achar um escudo humano...

Dormimos para no dia seguinte conhecer um pouquinho de Tianjin e tomarmos rumo à Pequim.

Mas aí já é uma outra história. Fica pra próxima.

T+

sábado, 13 de setembro de 2008

Pensamentos alheios

Gilberto Freyre (1984), a respeito da PNAD do IBGE que mostrava que a ascensão social do mulato e do negro estavam virtualmente bloqueadas.


"O problema é que a abolição da escravatura, embora tenha sido fato notável na história da formação brasileira, foi muito incompleta. Joaquim Nabuco, um homem de extrema visão, lembrava que, com a abolição, os problemas dos negros não estariam resolvidos, eles estariam apenas começando. Nabuco dizia que era necessário preparar o negro para ser cidadão, mas quem se interessou por isso? O novo governo, os novos líderes, os industriais, a Igreja? Ninguém se interessou. O negro livre deixou as fazendas e os engenhos e foi inchar as periferias das cidades. Abandonado, constitui-se num sub-brasileiro. Por isso os dados dessa pesquisa só revelam que há uma discriminação contra homens que não foram educados para ser cidadãos brasileiros."

Sérgio Buarque de Hollanda (1976), a respeito de sua afirmação de no Brasil nunca haver existido democracia.


"No Brasil, sempre foi uma camada miúda e muito exígua que decidiu. O povo sempre está inteiramente fora disso. As lutas, ou mudanças, são executadas por essa elite e em benefício dela, é óbvio. A grande massa navega adormecida, num estado letárgic, mas em certos momentos, de repente, pode irromper brutalmente."


Depois de tanto tempo, o que é que mudou? Se algo, muito pouco...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Filme de ação

Sete anos atrás estava eu preparando meu café da manhã, me preparando psicologicamente para ir à faculdade, terminando de acordar, ainda em estado zumbi, quando escutei umas coisas esquisitas passando na TV da sala.

Saí da cozinha, com meus apetrechos alimentícios e sentei-me de frente ao aparelho televisor. Achei estranho estar passando um filme àquela hora da manhã... Olhei, olhei, mas não entendi.

Dei umas mordidas na torrada ou o que quer que seja que eu estava comendo naquela hora, estiquei o braço pra alcançar o controle-remoto (tem que escrever "controlerremoto" com as novas regras de ortografia???) e mudei de canal.

Entre um bocejo e outro, mordi de novo o pão, e fiquei pensando porque cargas d'água o mesmo filme estava passando também no outro canal.

No terceiro canal, já não intindi nada e aí resolvi prestar atenção no que o povo tava falando... Se não me engano, era a Olga Bongiovanni. "Gente, olha só! O WTC foi atingido por um avião!" E no niquê ela falou isso, BUM!, um outro avião se chocou contra a outra torre...

Foi assim que eu fiquei sabendo, há exatos 7 anos atrás, que o WTC havia sido (finalmente, depois de outras tentativas) atingido por um ataque terrorista.

Mal sabia eu, mastigando minha torrada, meio atônito, meio com sono, que isso iria mudar a ordem mundial de lá pra frente...

Pois é.

Só pra constar...

Quando escrevi aquele post sobre a China e uma pequena comparação com nosso Brasil Varonil, teve gente que disse que não dá pra comparar, que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa... Pois é. É de certa forma verdade.

Não tem como dizer que não vivemos em um país democrático, que nossos governantes são escolhidos democraticamente pelo povo, que a economia vai indo de vento em popa, que estamos entre o seletíssimo grupo das quinze maiores economias do planeta, etc.

Também não dá pra negar a falta de liberdade do povo chinês na maior parte de suas vidas. Não se pode migrar do campo para a cidade sem prévia autorização do governo (leia-se do PCC, que não é o Primeiro Comando da Capital não, tá?); a falta de liberdade de escolher quantos filhos ter, tendo o casal a única opção de "ter" ou "não ter" um filho; ter que se submeter ao modo socialista de viver; além de conviver com a pena capital aguardando pelos criminosos.

Bem, o que eu queria mostrar com meu humilde post era apenas o fato de que o Brasil ainda tem muuuuita coisa pra mudar. E tudo pode ser conseguido com apenas a conscientização do povo. O nosso povo brasileiro não pensa (muito) nas coisas erradas porque, primeiro, não tem educação (no sentido de estudo), não tem idéia do que é a política, não dá valor ao voto democrático, e, por último, não quer saber dessas coisas complicadas já que tem muito o que fazer (trabalhar) e pensar (futebol).

Este nosso povo é filho de uma colônia explorada até as últimas gotas por potências exteriores, acostumada à divisão de classes desde cedo (Europeus X Negros/Índios), nascida e criada em "mini-reinos" governados pelos Coronéis e seus capangas... Esta nossa geração (incluo-me aqui), além de tudo isso, ainda é filha da época da ditadura, uma época em que se tinha medo de pensar, de ser contra o sistema, de extravasar qualquer emoção política em público. Ainda vivemos sob leis criadas para cercear os (poucos) direitos do cidadão, só dando a eles a opção do pão e circo.

Senti muito isso morando aqui na Coréia, que de uma forma ou de outra, é bem parecida com o nosso Gigante-deitado-eternamente-em-berço-esplêndido. O povo coreano passou também uma boa parte de sua vida vassalo da China, em guerra com o Japão, e, mais recentemente, subordinada ao jugo japonês durante décadas antes que o país fosse invadido pelas duas grandes forças mundiais no pós-guerra, os soviéticos ao norte e os americanos ao sul, o que rendeu a divisão do país a qual continua até hoje. Logo após a democratização da Coréia do Sul, o país se viu jogado em uma época de ditadura (meio no estilo Getúlio Vargas) e, logo depois, pelos militares.

Todo esse pano de fundo deu um resultado meio parecido ao pensamento do povo brasileiro.

Para o coreano, não há país melhor que a Coréia, não há comida melhor que a coreana, não há montes e mares mais belos que os deles... Parece com alguém que vocês conhecem?

No entanto, o ponto de ruptura entre as duas nações se deu há cerca de uns quarenta anos, quando o governo decidiu investir. Não vou dizer, como muitos dizem, que o que mudou a Coréia foi a educação. Isso porque a educação na Coréia sempre, desde o primórdios do princípio, por influência da China e de suas doutrinas (como o Budismo e, mais tarde, o Confucionismo), sempre havia sido de extrema importância. Além disso, logo após a abertura e a ocidentalização da Coréia no finzinho do séc. XIX e começo do séc. XX, os americanos chegaram aqui ávidos por um país à espera de evangelização, o que trouxe o protestantismo e universidades (no estilo ocidental) para o país. É claro que houve investimento na área de educação, mas creio eu de uma forma um pouco menos direta do que o é dito a torto e a direito por aí. (Corrijam-me se estiver equivocado.) A "tara" do povo coreano de dar estudo aos filhos somente se alastrou às classes mais baixas que eram proibidas de fazê-lo por questões financeiras e sociais (a não ser que mandassem o filho estudar nos templos). A partir dos anos 60, o governo injetou grana pesada é na indústria coreana que precisava crescer a todo custo e exportar para gerar divisas e tirar o pobre país agrícola do úmido campo de arroz. Foi aí que nasceram os grandes conglomerados coreanos como Hyundae, Samsung e LG, só pra citar uns poucos e mais conhecidos no Brasil. Com o aumento de trabalho, veio o aumento de dinheiro, com o aumento de dinheiro e com setores especializados, veio a demanda de educação, com a demanda de educação, veio uma geração mais preparada, com essa geração mais preparada, veio mais forças para as grandes empresas, e assim vem sendo, uma bola de neve.

O problema é que aqui também tem problema de educação. Ao ver os números brutos e descontextualizados, parece que "tudo vai bem no Reino da Dinamarca", mas algo está podre. Ao meu ver, convivendo com os coreanos que pululam aqui e ali neste país, percebo que o esforço para o estudo é muito grande, mas o resultado é relativamente pífio. O coreano médio não quer saber muito mais do que um brasileiro médio (de nível universitário). As pretensões são as mesmas de se conseguir um bom emprego em uma grande empresa, entrar às 9, sair às 5 (com sorte), emprestar dinheiro pra comprar casa, pagar durante 20 anos, ter filhos, botá-los na escola até a faculdade, e depois morrer (já que não dá muito tempo pra aposentar).

Os coreanos praticamente vivem na escola, principalmente na época do segundo grau (sempre esqueço o nome novo que deram... ensino médio?). Saem de casa às 6, vão pra escola o dia inteiro, depois da aula mais ou menos às 5, vão estudar na escola mesmo, por algumas (boas) horas e depois, vão pra casa?, não!, vão pro cursinho estudar de novo até a meia-noite ou uma da manhã, pra no dia seguinte fazer a mesma coisa (principalmente no terceiro ano do ensino médio).

E estudam o quê? - pergunto eu. Estudam, ou melhor, memorizam questões de vestibular.

A vida dos estudantes coreanos se resume a decorar questões de vestibular... Claro que há exceções, mas na maioria dos casos, as escolas só ensinam e os pais só enfatizam o fato de o "ser" ser capaz de passar na prova do vestibular! Isso já estava acontecendo no Brasil quando saí com as "escolas" do Objetivo, do Anglo, etc, que moldam seus currículos baseados no vestibular. Eu acho isso um impropério! Coitado do jovem, que é uma esponja, é capaz de aprender qualquer coisa, só é ensinado a resolver questões prontas que se repetem de ano a ano! Ao invés de ensinar o sujeito a base e dar todo o conhecimento necessário o qual por meio de raciocínio lógico e bom senso vão guiá-lo para o resto de sua vida, as escolas só ensinam os coitados a resolver problemas. O que acontece? Viram robozinhos! É o que mais vejo por aqui... A maioria dos coreanos, não sabe de nada, só do que decoraram para resolver os problemas que aparecem na vida. A meu ver, eles não tem preparação alguma a não ser o fato de serem aptos a decorar o manual de instruções que vai salvar a pele do sujeito para aquela ocasião. Quando não precisar mais, é só apertar "delete"; se precisar de novo, é só decorar. Acho que é por isso que coreano gosta tanto de computador. É exatamente o que eles são: encheu o disco rígido? formata! precisa de mais programas? dá um download!

Pois é, tudo isso só pra chegar no ponto central.

Será que nosso mundo tem jeito? O Brasil tá assim, a Coréia tá assado, a China tá daquele jeito, o Reino de Nosso Senhor GW Bush está de mal a pior...

E muita coisa, por estarmos muito acostumados, não conseguimos ver. Se tudo está errado, o que está certo parece errado. Acostumamo-nos a ver sempre a mesma coisa, sempre a mesma pasmaceira, e se alguém sai desses trilhos, essa pessoa é estranha, é errada. Para que mudar? Para que se dar ao trabalho de mudar?

No entanto, meus amigos, quando temos a oportunidade de um campo neutro, de um distanciamento que nos dá a possibilidade (não que todos façam isso) de observar com outros olhos e com novos parâmetros, muita coisa deveria e poderia ser mudada. Não obstante, isso não é fácil pela mentalidade do gado que vai sendo tocado ao som do berrante de 508 anos de servidão.

Há um (bom) certo tempo atrás, estava eu em Pouso Alegre, a cidade que abraça o futuro, e matava meu tempo lendo um jornal na praça pública do centro da cidade à frente da catedral. Quando menos esperava, uma senhora se aproximou e disse, na mais pura boa-vontade: "Bom dia, moço!" - ao que lhe respondi - "Bom dia." Continuou ela então: "Não lê muito não, que faz mal pras vistas, viu? Bom dia." E assim foi. Isso ficou marcado como uma facada em meu peito, sensação que não esqueço até hoje. Enquanto o povo for avesso à educação, à informação, ao pensamento crítico, à expressão de suas opiniões, aos debates, etc, nosso país e nosso povo nunca sairá da lama em que reclama estar por tantos e tantos séculos. Pensei em perguntar-lhe se muita TV também não faria mal às vistas, mas contive-me e decidi não prolongar a conversa. Também não me faria entender.

Isso é algo que sempre ouvi desde molecote (que palavrinha besta, né?). "Não deixe esse menino ler/estudar tanto assim que ele fica louco!" Muita gente dizia isso a meus pais e eu me lembro como se fora ontem.

No entanto, de uma forma ou de outra, acho que eles tinham uma pontinha de razão... Se eu tivesse seguido seus conselhos, hoje estaria feliz no meu cantinho assistindo Domingão do Faustão/Domingo Legal deitado no sofá da sala...

Um abraço com certa indignação...

Juliano

PS: Quanto ao fato de vivermos em um país democrático de livre expressão e sem censura, favor ler o seguinte post do blog "A Nova Corja": http://www.novacorja.org/?p=4238.

Obrigado pela atenção.

PPS: E eu ainda tenho que estudar pro meu exame... Ai, ai...

Feriado...

Aí vem mais um chuseok (추석 秋夕), feriadão pelo qual todos os coreanos esperam para poderem voltar às casas dos parentes e reverenciar os antepassados. Na verdade, eles gostam mais é de reverenciar os vivos, porque estes lhes dão dinheiro! hehe Para quem não se lembra, que dê uma lida no meu post do Chuseok do ano passado...
Então, com um baita feriadão desses se aprochegando, vocês hão de pensar: "ah! que bom pro Juliano! ele terá um tempinho de descanso e poderá escrever-nos mal-traçadas linhas para que possamos saber de suas estripolias coreanas!"
Aí chego eu e digo: "Na-na-ni-na-não..."
Não???
Pois é, não.
Tenho um exame para o dia 19 e vai ser o ó do borogodó. Eu preciso passar para poder terminar meu mestrado. E na prova cairão questões de todas as áreas da lingüística... fonética, fonologia, semântica, sintaxe, lingüística histórica, lingüística computacional, e o diabo a 2^2!
Além disso, ainda resolvi chutar o degrau da escada do metrô... Além de acabar com minha unha, ainda abri um rasgo considerável no dedão do pé. Agora, depois de cinco dias, já está bem melhor, mas ainda resolve doer um pouco de vez em quando.
Pelo menos, o trabalho do laboratório desafogou um pouco nestes últimos dias.
Então, pra quem se pergunta "o que será que o Juliano está fazendo por aquelas bandas?" aí está uma resposta resumida.
Desejem-me sorte.

Um abraço e até a próxima.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Centésima postagem do blog - Viagem

Para comemorar a centésima postagem do meu blog, Kimchi com Café, vou começar a escrever o que fui escrevendo durante a viagem que fiz à China. Aí vai:

15 de agosto de 2008

Há exatos dois anos, no dia 15 de agosto de 2006, estava eu, a uma hora destas (considerando as doze horas de diferença que separam este lado do mundo e o nosso país), apreensivo e imaginando o que estava por vir, já que, em poucas horas, estaria eu tomando o vôo da Canada Air em direção a Seul, com uma "paradinha" de sete horas em Toronto. Depois de cinco anos desde que voltara do Japão, estava eu de novo a caminho da Ásia, desta vez, a caminho da Coréia.

Quem imaginaria, naquela época, que no mesmo dia, dois anos depois, estaria eu embarcando em direção a Pequim? Pois é. Cá estou eu, no momento, em pleno Mar Amarelo (ou Mar do Oeste, como o chamam os coreanos), em direção à Baía de Bohai, com destino a Tianjin.

Tomei o navio no porto de Incheon, a mesma cidade em que se localiza o Aeroporto Internacional mais importante da Coréia. O navio, chamado de "ferry" em inglês e coreano, não é nenhum transatlântico, mas também não é nenhuma balsa Rio-Niterói. O que posso dizer é que é bem maior do que eu imaginava. Estou no sexto deck (sexto andar). Acima de mim, ainda estão o sétimo e o oitavo decks. Os primeiros, de um a cinco, parecem ser usados somente pela tripulação, comportando, imagino eu, a casa de máquinas, compartimentos de carga, estoques e coisas afins.

Nos três decks aos que temos acesso, encontra-se de tudo um pouco para fazer com que a viagem de 23 horas seja um pouco mais agradável. Temos o hall de principal onde ficam o balcão de informações, sala de estar e sala de TV. À direita do hall, em direção à proa, encontram-se os quartos da classe econômica, onde estou alojado. Cada quarto desses é cortado por um corredor central que divide o grande compartimento em duas alas; cada ala, por sua vez, é então dividida por quatro corredores mais. Temos assim em cada compartimento da classe econômica, oito corredores com dois beliches de cada lado, totalizando oito passageiros por corredor, o que dá 64 passageiros por compartimento. Tudo parece ser mais limpo do que imaginava. As camas já estavam arrumadas com lençol branco, travesseiro com fronha também branca e um edredon fino de um violeta claro puxado para o rosa. Cada parte do beliche tem as suas cortinas, que, fechadas, provêem uma certa privacidade, na medida do possível.

Continuando o passeio pelo navio/barco/ferry, encontrei lojas duty-free (com produtos chineses), uma lojinha de conveniência com comida (leia-se bobeirinhas coreanas: bolachas, sucos, cervejas e lamyeon (miojo)). Há também uma cafeteria de nome Chicago, dois restaurantes, sala de jogos com playstations e caça-níqueis eletrônicos. Há também na popa, as áreas abertas, onde podemos ver a Coréia se afastando, algumas gaivotas voando à procura de pessoas que lhes dêem salgadinhos, e onde podemos sentir o vento marítimo batendo em nossos rostos.

Há muito mais o que escrever, muito mais o que descrever do navio/barco/ferry e dos passageiros, mas vou ficando por aqui, afinal são apenas três horas desde que deixamos a Coréia e ainda há longas vinte horas pela frente até que o navio aporte na China. Até lá acho que vai ter bem mais coisa pra escrever.

17 de agosto de 2008

O segundo dia de viagem transcorreu na mais perfeita normalidade. Já acostumados com o barco, o tempo começou a passar mais devagar. Além disso, a fome também começou a apertar. Num esboço de arremedo de economia e também, creio eu, num surto de nostalgia gastronômica de brasileiro, resolvemos, antes da viagem, passar no supermercado e comprar coisas para comer quando a bordo do navio. Eu, então, resolvi comprar pão de forma, presunto e queijo com ketchup e suco. As primeiras duas vezes que comemos, até que tudo bem, mas a terceira já começou a enjoar e resolvemos então partir para a comida coreana que serviam no restaurante do navio. Comemos isso ainda a umas sete horas antes do desembarque e, por força maior, acabamos tendo que nos fartar de misto frio mais uma vez. Sorte que a Eun Bee ainda comprou umas maçãzinhas, o que ajudou a variar.

Por volta das seis e meia da tarde, chegamos ao porto de Tianjin e o barco começou os preparativos para atracar. O porto é enorme e superpopulado, com navios de vários países, milhares deles. Por falta de espaço, o nosso barco chegou de lado e foi empurrado por um barquinho em direção ao cais. Enquanto isso, as filas já se formavam perto do hall principal do navio. Chineses, coreanos e alguns poucos estrangeiros já se preparavam com passaportes, documentos de imigração preenchidos e malas ou mochilas ao alcance das mãos. Nisso, eu já havia deixado minha mochila na fila de bagagens que se formava e Eun Bee estava toda faceira de mochilinha nas costas pra lá e pra cá. Quando passamos pela frente do balcão de informações, a mocinha disse que os estrangeiros (leia-se os não-coreanos) devem sair primeiro e, portanto, devem ficar próximos à porta, e os simples mortais coreanos devem ficar na fila. Acabamos trocando de postos e Eun Bee pegou a fila e eu fiquei todo faceiro com meu mochilão nas costas pra lá e pra cá (perto da porta). Além do que ela ficou desesperada, preocupada se iríamos nos encontar novamente depois do embarque.

Na reuniãozinha de estrangeiros à espera do desembarque, havia vários asiáticos e eu e mais dois ocidentais: um mexicano, Henrique, e um americano de cujo nome me esqueci. Conversamos por alguns minutos e fiquei sabendo que o americano havia sido expulso da Coréia (talvez por questões de visto, não quis entrar em detalhes) e o Mexicano estava numa viagem de volta ao mundo, depois de ter passado um tempo em Londres, vivendo com brasileiros e achando que sabia falar português, só porque falava espanhol e punha "você" no meio. Comentou que chegara em Londres pouco depois do assassinato do Jean Charles e que toda vez que tomava metrô se sentia apreensiv, com medo de confundirem-no com um terrorista árabe.

Desembarcamos. Subimos no ônibus que nos levou ao terminal e chegamos à fila da imigração. Só havia um guichê para estrangeiros, mas mesmo assim foi rápido, já que descemos na primeira leva. Na minha frente foi o americano que foi barrado e chamado para um canto para conversar. Aí fui eu. O policial olhou que olhou meu passaporte (já que a m*rda do passaporte brasileiro, o antigo pelo menos, é bem diferente dos outros passaportes do mundo e eles nunca sabem onde encontrar as informações necessárias), perguntou qual o propósito da minha visita à China, ao respondi ser turismo, olhou de novo minha foto e minha cara, no estilo cara-crachá-cara-crachá-cara-crachá, meteu os carimbos e me mandou entrar em seu país. O mexicano veio em seguida e nisso eu saí um pouco do burburinho para fazer reconhecimento de área. A próxima etapa seria a inspeção de bagagens, raio-x e etcétera e tal. Resolvi esperar por Eun Bee para passarmos juntos pela inspeção já que ela estava com medo de se perder. Pensei que demoraria, mas menos de cinco minutos passados, apareceu a cabecinha dela no mar de cabecinhas sino-coreanas. Finalmente ela passou pela imigração e continuamos nosso caminho pela inspeção de bagagens. Foi só aí que percebi que o mexicano também tinha sido retido para explicações. Passei só eu. Pusemos então nossas malas no raio-x, passamos pelo detector de metal e marchamos rumo à liberdade após 24 horas de navegação.

Saindo do terminal, começou a luta pelos táxis. Um grita, outra grita mais alto, ao que resolvemos sair um pouco do tumulto e aproveitar para tirar umas fotos. Deopis de nos aclimatarmos um pouco à nova realidade, resolvemos pegar um táxi mesmo, já que não tínhamos nenhum tipo de informação de onde estávamos e de onde deveríamos ir, a não ser pelo nome do hotel. O taxista havia dito que por menos de 150 yuans ele não faria a corrida e a informação que tínhamos é que a corrida sairia por volta de 100 yuans. Considerando a situação de falta total de informação, tomamos o bendito táxi que demorou uma eternidade. Mais de uma hora e sessenta quilômetros depois, chegamos ao bendito hotel, uma ilha coreana em meio a Tianjin.

Fim da primeira parte...

Aguardem...

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